- The Brazilian Critic
Com tema complexo, “O Mecanismo” se aventura em pleno ano eleitoral
Atualizado: 17 de Jul de 2020
No dia 23 de março estrearam todos os episódios da mais nova produção nacional da rede de streaming Netflix. Criação de José Padilha, cineasta responsável por outra série bem sucedida da rede, “Narcos”, e pelo longa-metragem sucesso de crítica e bilheteria, “Tropa de Elite”, a série “O Mecanismo” explora, de forma ficcional, os desdobramentos da Operação Lava-Jato no Brasil e a forma como a corrupção envolve várias camadas do poder no país.
Com roteiro de Elena Suárez (“Cidade dos Homens”), baseado no livro “Lava Jato: O juiz Sérgio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil” de Vladimir Netto, a trama conta a história do policial Marco Ruffo e sua equipe e a investigação sobre um enorme esquema de corrupção que envolve altos cargos políticos e empresariais no Brasil.
O texto toma a liberdade de ficcionalizar fatos, lugares e, principalmente, pessoas, para ter maior liberdade de desenvolvimento das personagens, mesmo não conseguindo se isentar das comparações com a vida real. Entretanto, o roteiro não aproveita a possibilidade de criação, e perde tempo com histórias paralelas que não são bem exploradas (pelo menos nessa primeira temporada), caindo no didatismo político involuntário.

Os oito episódios são dirigidos separadamente por Padilha, Marcos Prado, Felipe Prado e Daniel Rezende. A direção é cadenciada, sempre mantendo o clima de tensão, mesmo quando a cena não exige tanto. As cenas de ação da polícia são bem montadas, com possível influência das experiências de Padilha e Rezende em filmes como “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus”.
Apesar de um roteiro tendencioso, as atuações sabem se destacar, sendo o ponto forte da série como um todo. O personagem de Marco Ruffo, interpretado por Selton Mello, parece um pouco distante da realidade nos primeiros episódios, mas de sobressai com o andamento da série, mostrando a obsessão de um policial em busca da verdade.
Caroline Abras como a policial Verena é a mais sensata e, consequentemente, a melhor em cena. Sua personagem é forte e autoritária, um belo exemplo feminista em um ambiente masculino, e a atriz consegue passar seu poder em cena. Entretanto, a vida amorosa complicada, tema paralelo da personagem, acaba sendo um paradoxo no desenvolvimento da mesma.
Como o doleiro Roberto Ibrahim, Enrique Diaz mostra porque é um dos atores mais recorrentes em produções televisivas hoje, sobretudo quando é para ser um vilão. É uma atuação sutil, simples, mas que acaba cativando o espectador. O charme dissimulado do personagem causa a estranha sensação de raiva e admiração ao mesmo tempo.
